Apenas cerca de um quinto dos indivíduos com mais de 10 anos no Brasil desfrutam de uma conectividade satisfatória, apesar da internet estar praticamente acessível a todos. Enquanto isso, um terço da população está no nível mais baixo de conectividade, e aproximadamente um quarto está em uma faixa intermediária.
Os índices de conectividade são especialmente baixos entre os brasileiros pretos e pardos, assim como entre aqueles das classes sociais D e E, nas regiões Norte e Nordeste, e em áreas urbanas menores.
Essas descobertas são extraídas de um estudo inovador chamado “Conectividade Significativa: abordagens para avaliação e panorama no Brasil”, divulgado recentemente pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), uma entidade vinculada ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Esse estudo avaliou a qualidade e a eficácia do acesso à tecnologia digital da população, considerando fatores como custo da conexão, diversidade de dispositivos utilizados, tipo e velocidade da conexão, e a frequência de uso da internet.
Com base nessas variáveis, foram definidos diferentes níveis de conectividade, resultando em uma escala de 0 a 9, em que zero representa a ausência total das características avaliadas, enquanto nove indica a presença de todas elas.
Embora a grande maioria da população brasileira já faça uso da internet, as condições desse acesso são bastante desiguais, conforme avaliação de Graziela Castello, coordenadora de estudos setoriais no Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br/NIC.br), responsável pela pesquisa.
Por exemplo, um jovem que acessa a internet apenas pelo celular, com um pacote de dados limitado e sem conexão em casa, enfrenta desafios significativos para aproveitar as oportunidades online em comparação com outro jovem que possui acesso diversificado a dispositivos e pode se conectar em diferentes momentos e locais.
Diferenças significativas também são observadas ao considerar fatores como raça, classe social, região geográfica, gênero e faixa etária. Por exemplo, enquanto uma parcela considerável de indivíduos brancos está na faixa mais alta de conectividade, essa proporção é consideravelmente menor entre pretos e pardos. Similarmente, pessoas das classes sociais mais baixas enfrentam maiores desafios em comparação com aquelas de classes mais altas.
As regiões Norte e Nordeste apresentam as piores condições de conectividade, enquanto o Sul e o Sudeste lideram em índices mais favoráveis. Além disso, áreas urbanas menores e regiões rurais enfrentam maiores dificuldades em comparação com áreas urbanas mais densas.
No que diz respeito ao gênero, os dados revelam que os homens geralmente têm melhores índices de conectividade do que as mulheres. Da mesma forma, há uma disparidade significativa entre faixas etárias, com os idosos apresentando maior vulnerabilidade à exclusão digital.
Apesar de avanços ao longo do tempo, com uma redução na disparidade entre grupos de diferentes níveis de conectividade, ainda há muito a ser feito para garantir uma distribuição mais equitativa e acessível da internet em todo o país.
É crucial que as políticas públicas neste setor abordem questões como custo acessível, acesso a dispositivos adequados, qualidade da conexão e ambientes de uso, levando em consideração as diversas realidades sociais, econômicas e territoriais do Brasil.